quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Afrodite: a beleza corporificada


“A beleza é a mais generosa das verdades”, diz o poeta Raul de Leoni em Luz Mediterrânea, e aconselha alimentar nossos sentidos com as coisas belas e harmoniosas, de modo que nossa alma possa ressoar com elas.

Mas ele não fala da beleza como critério estético formal, como aquilo que parece e aparece, pois esta não tem nada de generosa. A verdadeira beleza é a expressão de algo mais profundo, uma harmonia que vai além da forma externa. A verdade da beleza é a consciência do coração e a reconhecemos de pronto, onde quer que ela se mostre. Reagimos a ela, porque ela toca nossos sentidos de um modo sutil e nos torna melhores, mais conectados com a vida e o cosmos.

Reconhecemos a beleza, quando algo toca nossos sentidos e atinge nossa alma, quando nosso coração ressoa com o que nossos sentidos nos apresentam. Seja uma árvore em plena floração, o sol aquecendo nossa pele, o doce sabor de uma fruta madura, o suave murmúrio de um regato, o cheiro de terra molhada.

Mas a beleza também pode ser reconhecida nas belas e harmoniosas criações humanas, desde uma refeição amorosamente preparada e servida, até grandes obras arquitetônicas. Desde singelas cantigas infantis, até grandes sinfonias. Desde um simples texto, até grandes obras literárias.

Na mitologia grega, vamos encontrar a beleza corporificada por Afrodite, deusa do amor e do desejo.

A vida ainda era jovem e tenra quando Afrodite emergiu do mar. Ventos mornos e suaves a trouxeram às praias de Chipre. Tão graciosa e sedutora era a Deusa, que as Estações vieram correndo para vê-la e, encantadas pela sua beleza, imploraram para que ficasse. Afrodite sorriu, sabendo que viera para ficar, pois sua tarefa jamais estaria concluída.

Ao caminhar sobre a terra, grama e flores brotavam sob seus pés. Andou por colinas e prados, observando todos os seres vivos com interesse. Seu contato despertava em todos doce desejo e, alegremente, os pares se uniam. Tudo ela despertava para a vida. A cada manhã, a terra se umedecia sob seu beijo.

Suas andanças a levavam para longe, mas a cada primavera, suas pombas a traziam de volta para Chipre, para o seu banho sagrado. Atendida pelas Graças, de nome Florescência, Crescimento, Beleza, Alegria e Brilho, Afrodite era coroada com murta e seu caminho forrado com pétalas de rosa. Após mergulhar no mar e renovar seu espírito no pulsar das ondas, surgia como a florescente primavera e todas as criaturas sentiam a alegria e o amor que irradiavam da bela Deusa.

Por todas as estações, anos e eras, o mistério de Afrodite permaneceu indestrutível, pois ela guarda o segredo da união amorosa, origem e manutenção da vida.

Nossa sociedade de consumo a reduziu a critérios estéticos duvidosos e parciais, muitas vezes ditados por questões mercadológicas. Uma beleza que separa e discrimina, em lugar de unir e expandir. O mundo moderno, obcecado pelos encantos físicos da deusa, perdeu contato com sua dimensão sagrada: a sensualidade, que se refere à gratificação dos sentidos através do belo, abrindo caminho para a expressão da alma.

Afrodite representa a força erótica da vida, a fonte de toda energia que mantém o universo coeso. A arte maior de Afrodite é a arte de relacionar-se, pois ela representa a força de atração entre todos os elementos da criação.

O que Afrodite nos ensina é que a beleza só pode surgir na relação, quando algo afeta nossos sentidos e toca nosso coração. Não há beleza sem amor ou amor sem beleza. A beleza é uma percepção sensual que atinge o coração. Quando o contato se faz, a relação acontece e se manifesta a paixão, a atração irresistível, seja por uma pessoa, por uma música, por um lugar, por um vestido, por uma idéia.

Mas, se necessariamente a paixão passa pelos sentidos e, portanto tem uma base física, a beleza vai além do que os sentidos podem captar; ela nos envolve toda, ela emerge do encontro sensual profundo e tem o poder de transformar a experiência física em êxtase. Ela nos transforma e transforma o mundo. Ela não tem a ver com normas e medidas, pois a beleza é um estado de graça.

Quando nos sentimos feias ou vivemos em um ambiente degradado, a ausência de Afrodite pode levar à depressão, tornando as relações estéreis. A presença de Afrodite em nossa vida produz riso, brincadeira, gentileza, paz e harmonia, qualidades que todas nós podemos manifestar, correspondendo ou não às normas de beleza ditadas pelos meios de comunicação ou pela moda.

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Anjos - Anjo da Paz

“A Magia é o estudo sério das leis que regem as forças que nos rodeiam e que são postas em ação pelo poder da Vontade; a Magia é a ciência que ativa a potência do verbo e, sobretudo, dirige e concentra o poder do Amor, porque a magia não é branca e nem negra. A cor da Magia está no coração de quem a pratica.”

(Márcia Villas-Bôas)