quarta-feira, 23 de setembro de 2009
O Caldeirão de Ceridwen
Nas diversas tradições celtas, vamos encontrar o caldeirão em suas várias funções, como propiciador de abundância, imortalidade, regeneração, conhecimento.
Os celtas são integrantes dos povos indo-europeus, originários das grandes estepes da Ásia Central. A partir do período neolítico, vários grupos se deslocaram em levas sucessivas, até ocuparem, no final da Idade do Ferro, todo o oeste europeu, do Rio Reno até o Oceano Atlântico. Nos dias de hoje, o centro da cultura celta se localiza nas ilhas britânicas, desdobrando-se em três ramos: o irlandês, o galês e o bretão. Na tradição galesa, o caldeirão do renascimento é associado com Ceridwen, deusa do grão e da inspiração, a suprema iniciadora e senhora dos mistérios. Nele ela ferve a poção iniciadora, a fonte de todo conhecimento. Em sua função de guardiã da sabedoria, ela pode assumir formas assustadoras, com o propósito de inculcar responsabilidade pelo conhecimento e seus usos.
Relata a lenda que Ceridwen, esposa do nobre Tegid do norte de Gales, tinha uma filha, que era a mulher mais linda do mundo, e um filho terrivelmente feio. Pensando em compensá-lo por sua feiura, Ceridwen usa sua magia para preparar a “poção da inspiração e de toda sabedoria”, no intuito de torná-lo o sábio vidente mais famoso de todos os tempos.
Para tanto, durante o ano ela colhe flores, folhas e ervas, que cozinha em seu caldeirão. Um ano e um dia fervilha a poção no caldeirão mágico de Ceridwen, quando três gotas respingam no dedo do jovem ajudante Gwion, encarregado de manter o fogo aceso. Como reflexo, ele põe o dedo na boca. As três gotas da poção mágica foram suficientes para que diante dele se abrissem passado, presente e futuro, incluindo o conhecimento do perigo que lhe advinha da própria Ceridwen, assim que esta soubesse do ocorrido.
Deixando pra trás o caldeirão fervente, ele fugiu na forma de um coelho, um peixe, um pássaro, mas a deusa-mãe o perseguiu como cachorro, lontra e falcão. Finalmente Gwion se reduz a um grão de trigo, mas é engolido por Ceridwen transformada em galinha preta. Ela engravida e o traz ao mundo como um menino tão bonito, que ela não é capaz de matá-lo. Em vez disto, ela o esconde num saco de couro e o joga ao mar, de onde é pescado pelo nobre Elffin, “o sem sorte”, na véspera de Beltane, de quem recebe o nome de Taliesin.
Mas o de Ceridwen não é o único caldeirão da mitologia celta. Quando chegaram à Irlanda, as tribos da Deusa Dana (os Thuata Dé Danaan), mãe fecunda, geradora divina de todos os deuses irlandeses, trouxeram consigo a religião, a ciência, a profecia, a magia e, principalmente, quatro talismãs, entre eles o caldeirão de Dagda, o Deus Bom. Conhecido por sua abundância, o caldeirão de Dagda incessantemente produz a comida mais requintada e a bebida mais saborosa. Diz-se que ninguém se afasta insatisfeito deste caldeirão inesgotável e benéfico.
Já na tradição bretã, a assimilação do cristianismo trazido pelos romanos transformou o caldeirão no Santo Graal, o cálice capaz de regenerar a terra devastada, desde que o cavalheiro que o encontrasse tivesse um coração puro e fizesse a pergunta apropriada, façanha que coube a Gawain, Cavalheiro da Távola Redonda. A pergunta correta a ser feita era: “A quem deve ser servido este copo?”
Qual seria sua resposta a esta pergunta?
Quais são os ingredientes da poção que você está preparando no seu caldeirão?
Artemis e Atena - Caminhos para a independência
Ser quem somos parece ser a coisa mais fácil! Mas quando tentamos simplesmente ser quem somos, encontramos muitos obstáculos, internos e externos. Qualquer mulher que esteja em busca de ser ela mesma já se deparou com as dificuldades do caminho.
Por muito tempo, a identidade de uma mulher estava diretamente relacionada com os homens presentes em sua vida, fossem pais, parceiros, filhos. Nos tempos atuais, vemos cada vez mais mulheres buscarem sua independência deste papel complementar, expressando sua individualidade e autonomia de um modo próprio.
Na história da humanidade, sempre houve mulheres cuja vida e identidade eram independentes. Elas recebiam a alcunha de ‘virgens’, designando uma mulher que não pertencia a nenhum homem. Elizabeth, a ‘rainha virgem’ que regeu a Inglaterra no século XVI, teve que enfrentar as forças espanholas que queriam tomar seu reino. Cate Blanchett, no papel da rainha em “Elizabeth – A Era de Ouro”, nos apresenta com maestria o conflito interno que vem com a independência. Na cena final, depois de invocar ajuda divina para suportá-la, ela afirma “Eu sou a Rainha. Eu sou eu mesma”.
Afirmação semelhante foi a de uma adolescente dos dias de hoje que, em seu caminho para se tornar independente, confessou o quanto é “difícil ser Eu”.
A mitologia grega nos oferece dois modos distintos de seguir o caminho da independência, caminhos estes personificados nas deusas ‘virgens’, Ártemis e Atena. Enquanto Ártemis escolhe o caminho da natureza selvagem, Atena segue o caminho da civilização. Qual o caminho que você escolheu na sua vida? Será possível conciliar estes dois caminhos para uma experiência mais plena de ser “eu mesma”?
Ártemis, a deusa da natureza selvagem, é virgem, como todos os lugares ainda não violados do planeta, espaços em que se aventuram apenas os pessoas mais destemidas, aquelas que se sentem atraídas para lugares remotos, intocados. Vamos encontrá-la na solidão das florestas, nas profundezas das cavernas e nas alturas das montanhas, banhando-se em cachoeiras ou dançando em campinas floridas.
Representando a força imanente em toda a natureza, Ártemis está contida no mundo selvagem, no espírito do lugar, na linguagem dos animais, aves, peixes, insetos. Como a Senhora dos Animais, ela nos remete diretamente aos tempos pré-históricos das coletoras e caçadores, nossos ancestrais remotos, que ainda viviam em íntima relação com todos os seres vivos.
Como a própria alma pura da natureza vestida de donzela, ela vagueia livremente, dançando e cantando nas vozes murmurantes dos regatos, no farfalhar das brisas e no sussurrar das flores. Como a própria natureza, ressente-se de qualquer invasão que interfira com a harmonia de sua existência. Como a deusa das coisas selvagens, manifesta uma atitude natural de proteção em relação aos animais e a tudo que é recém-nascido, razão pela qual é invocada em momentos de transição, como nascimento, puberdade e morte.
Quando somos tocadas por esta deusa, nos sentimos impulsionadas a buscar espaços isolados, longe do mundo urbano, civilizado. Procuramos o silêncio e a paz dos paraísos ecológicos. Podemos nos aventurar em lugares remotos do planeta, buscar animais não domesticados.
Como a última das deusas assimiladas ao panteão grego, Ártemis representa a resistência de um modo de vida natural ao advento da civilização e da urbanização, saudosismo que traz como resultado o sentimento de solidão, que aflige tantas de suas filhas. Mas também é o ponto de partida para o desenvolvimento de uma independência mais integrada, mais amadurecida.
Podemos passar a vida nos ressentindo e nos queixando de solidão, ou podemos encontrar meios e jeitos de integrar essa qualidade, tão necessária para um mundo mais harmônico, não recriando a harmonia perdida nas brumas, mas criando uma harmonia adaptada ao nosso tempo, recuperando qualidades que foram sendo deixadas pelo caminho.
Como podemos expressar esta qualidade artemisiana em nossa vida moderna, como habitantes de cidades de concreto, congestionadas e barulhentas?
Podemos começar com nosso mundo interior, estabelecendo uma relação mais harmonioso com nosso corpo, ouvindo profundamente quais são nossas reais necessidades e desejos, escolhendo o que comemos, que música ouvimos, que roupa usamos, quais lugares frequentamos, selecionando aquilo que nos faz bem.
Ao definir nossas reais prioridades e agir no sentido de implementá-las em nossa vida, podemos criar mais harmonia e bem-estar. Quando resistimos ao que nos é cotidianamente inculcado pela propaganda, pela mídia, pelo sistema coletivo de crenças e por nossos próprios padrões limitantes, podemos recuperar nossa natureza original, vivendo em harmonia com tudo que nos cerca. Podemos seguir nosso coração, seguir o caminho escolhido por Ártemis.
Atena, por sua vez, nos mostra o caminho da civilização. Patrona da vida urbana, dos ofícios e das agremiações, ela nos impulsiona ao estudo, à pesquisa, ao desenvolvimento dos recursos civilizatórios.
Filha de Métis, a deusa grega da sabedoria, e de Zeus, o poderoso senhor do Olimpo, Atena é identificada com a criação da civilização característica de uma comunidade humana que vive em cidades, um espaço criado artificialmente, por meio da engenhosidade humana.
Além do saber abstrato, manifestado através da produção artesanal e industrial, da arte da guerra, do poder institucionalizado, introduzido pelo princípio masculino, Atena também incorpora a sabedoria intuitiva de sua mãe, finamente sintonizada com os sutis processos de transformação, que ocorrem continuamente na vida das pessoas, receptiva aos sentimentos pessoais, poéticos e sensíveis, próprios do princípio feminino.
Com coragem e brilho, ela transita entre os reinos da alma e do espírito, tecendo incessantemente a teia que abarca toda a humanidade, revelando-se como a grande deusa tecelã das origens. Na figura da Atena olímpica, ela reúne a herança de mãe e pai, escapando ao papel desqualificado que o patriarcado impôs às mulheres.
Forte e determinada, sábia e poderosa, ela representa a justiça amorosa, que trabalha sobre um quadro de maior inteireza, captado por seus bondosos olhos cinzas, que veem através da escuridão da ignorância.
Ao escolher este caminho em direção à independência, Atena se distanciou de suas emoções e cobriu seu coração com a figura protetora da Górgona. Quando seguimos seu exemplo e nos aventuramos pelo universo do saber, também corremos o risco de nos distanciar de nossas emoções e terminar ressequidas, frias, distantes. Sentimos falta dos cuidados amorosos da mãe natureza, sentimos falta de suas águas frescas e fluentes que podem nos revitalizar.
Então, como podemos expressar as qualidades atenianas, sem nos distanciarmos dos movimentos naturais, da vivência amorosa, da relação com tudo que existe? Podemos nos perguntar a que serve o saber que criamos, como aplicá-lo com discernimento, como colocá-lo à disposição de todos, para o benefício de todos. Partilhar é o desejo mais profundo que pulsa no coração de Atena e que ela traz de sua origem arcaica, a mesma origem arcaica de Ártemis.
Quando partilhamos nosso saber, quando o aplicamos para benefício de todos, quando o disponibilizamos com integridade, estamos recuperando as raízes arcaicas de Ártemis e Atena ao mesmo tempo, pois elas também são as nossas raízes. E quando recuperamos nossas raízes, quando somos quem somos e o expressamos na nossa vida, descobrimos que Ser Quem Somos é fácil, prazeroso e poderoso, tudo ao mesmo tempo!
As dádivas de Ártemis e Atena são o Amor e a Verdade, a dualidade básica do mundo da manifestação. Tudo que existe possui amor e verdade. Às vezes mais amor do que verdade, outras vezes mais verdade que amor. Enquanto o amor cria a conexão que nos torna unidos, a verdade cria espaço para a individualidade. Precisamos de ambas as qualidades para Sermos quem Somos.
Monika von Koss
A MADONA NEGRA E SUAS MIL FACES
Quem é a Madona Negra? Qual a sua primeira face?
È a Mãe Terra, o Princípio Feminino, nossa Mãe Primordial, símbolo de Sabedoria e Integração dos Opostos. Como perpetuação das poderosas Deusas da antigüidade, ela volta com as características sagradas de Maria. Metaforicamente Virgem, mas não no sentido do Patriarcado, porque não pertence a nenhum homem e sim a todos os homens. Doadora de vida, dela provêm os homens como frutos da Terra e a Ela todos retornam, à Deusa Mãe - Mãe Terra.
As mais antigas manifestações do culto à Mãe Terra datam da pré-história. Uma delas é uma pequena estatueta na qual era representada com seu filho divino, ambos com cabeça de cobra. Sua ligação com os animais torna-se evidente: ora em baixo-relevo, cravados na rocha, ora em outras pequenas estatuas, Ela aparece cercada de leões, pássaros, serpentes, leopardos, touros, peixes - eis outras das suas faces!
Era a Senhora dos Animais que chega até nós nas viagens xamânicas, o Universo da Pré-história, no qual o ser humano sonhava o grande Sonho, grandes dimensões expressavam o poder da gestação - o Ovo Cósmico, círculos concêntricos, mulheres avantajadas com protuberantes seios, nádegas e barriga, traziam este poder. Nádegas para parir, barriga para gerar e os seios para nutrir. É a Mãe Creatrix, outra de Suas mil faces.
Mais próxima dos tempos conhecidos, a Mãe Terra revela outras diferentes faces. Na Suméria, aparece como a muito popular Inanna, de dupla personalidade: de manhã é uma valorosa "Senhora das Batalhas", Deusa dos Heróis; à noite torna-se a Deusa da fertilidade, dos prazeres e do amor. As "prostitutas Sagradas" são suas Sacerdotisas, e todas as mulheres da Suméria tinham como obrigação para com a Deusa Inanna se oferecerem sexualmente no templo para os estrangeiros pelo menos uma vez por ano. Os opostos que se encontram, se harmonizam, e que é o grande poder da Madona Negra, aqui se revelam ! O Sagrado e o profano.
Na Babilônia, Ela é Isthar. Entre os hebreus, é Astarte. Na Frigia, Ela é Cibele (a Diana dos 9 fogos), indicativo de fertilidade. No Egito, Ela é Isis e ainda aparece na face de Nerth a mais velha e sábia das Deusas. Ela é o céu noturno que se arqueia sobre a Terra, formando com suas mãos e pés as portas da Vida e da Morte. Da Grécia, nós temos acesso ao mais rico acervo sobre a Mãe Terra. Da cultura Cretense, Mar Egeu, chega até nós suas sacerdotisas vestidas de peles com os seios à mostra e com serpentes e conchas ao seu redor. Ela, a Mãe Terra, é a Mãe Animal que, como cabra, porca ou vaca, alimenta o pequenino Zeus. No centro deste poderosíssimo culto à fertilidade, vamos encontrar o touro, o duplo machado, o Minotauro e o Labirinto.
A Deusa de Creta - Deméter - é a Senhora do Mundo Inferior, das profundezas da Terra e da Morte. Seu ventre terreno é o ventre também da fertilidade de onde a vida emana. Harmonizar estes Opostos é a principal Força da Madona Negra, ela que é o Negro da Luz. Como doadora de vida, Ela é o útero eterno que, na tradição Yorubá, é a representação da totalidade, o conteúdo e o continente criados. Arquétipo vivo, Ela é o Orixá Oxum, é a representação deste poder da Madona Negra no Candomblé. Senhora de todas as águas, que é o sangue da Terra, é representada também como um peixe mítico ou pássaro. Salve OXUM !
Como Mãe Terra, a Madona Negra era cultuada no mundo pagão com as faces das Deusas do Olimpo, mas, com o início da Era Cristã, este culto passou a ser clandestino. Seus ecos que chegam até nós são os mistérios de Eleuses, no qual se cultuava Deméter e Perséfone.
As 3 grandes Deusas do leste: Ísis, Cibele e Diana de Éfesos, que eram representadas como negras, se estabeleceram no Ocidente antes da dominação romana.
Em Paris, já em 679, Dagoberto II estabelecia o culto àquela "[...] que hoje recebe o nome de Nossa Senhora da Luz", que é a nossa "Isis Eterna". Talvez este seja o marco da transformação da Mãe Terra pagã para a Virgem cristã. As Cruzadas, porém, foram as grandes divulgadoras da Madona Negra. Estatuetas negras encontradas em fontes, grutas, galhos de árvores, das quais emanava um profundo sentimento do Sagrado, eram trazidas por eles que as cristianizavam, colocando o manto e a coroa de Nossa Senhora. Elas traziam uma força incontrolável de liberdade e seu culto era possuidor de um espírito de sabedoria própria, que não se submetia a nenhuma organização ou lei nacionalista. É a volta da divindade feminina que levanta o entusiasmo popular, trazendo-a a um primeiro plano da consciência coletiva. A Humanidade experiencia as mais recentes faces da Madona Negra e Branca, com as aparições marianas da Virgem de Lourdes e La Salete no século XIX, e Fátima no século XX.
Paralelamente, um fenômeno sociológico assombrou o mundo - a revolução sexual feminina, que emancipou as mulheres por meio da igualdade de direitos e deveres. A Madona Negra está a favor, politicamente, do povo e de sua dignidade. Sua face mais importante hoje é a da justiça social. Ela é a consoladora dos Aflitos e dos Excluídos e aparece misteriosamente onde há sofrimento e opressão.
Em todo o mundo, encontram-se as faces da Madona Negra com essas características. Mas, para nós, a sua mais importante face é a de Padroeira do Brasil - Nossa Senhora Aparecida! Descoberta em 1717 no rio Paraíba em São Paulo. É uma pequena e esplendorosa figurinha negra que se apóia numa lua crescente.
Conta a lenda que essa pequenina estátua tornou-se extremamente pesada, impedindo que o pescador a levasse daquele lugar, onde foi feita inicialmente uma pequena guarita para ela. Nesse lugar hoje existe uma cidade-santuário, que acolhe peregrinos de todo o Brasil e do exterior. Milagrosa, poderosa, misericordiosa, ela traz conforto e alento para todos. É a patrona dos ricos e pobres, das prostitutas, homossexuais, travestis, motoqueiros, carroceiros e seus cavalos, desempregados, artistas, e até dos políticos!
Seu coração é grande como a Terra, imenso como o Cosmo, e por isto pode trazer alento ao sofrido povo Brasileiro.
Salve Nossa Senhora Aparecida!
domingo, 13 de setembro de 2009
ORÁCULOS
No livro "Os Oráculos", de Patrick Ravignat, lemos que:
"A questão divinatória é um eterno desafio mas o que importa não é tanto a massa de informações e de saber que ela propõe. Ela é a porta entreaberta, o salto em um além concreto, aqui e agora, a adesão a outra coisa que as normas do pensamento lógico não podem abarcar.
Simplesmente, todos os mundos coabitam, e todos os veículos não cessam de se cruzar: cabe a cada um, finalmente, inventar sua máquina para explorar o mistério.
- Vocês acreditam em todas essas coisas? - Oh, não, absolutamente, mas....
Esse não, mas resume a atitude paradoxal de nossos contemporâneos diante dos fenômenos ditos paranormais e tidos como inexplicáveis. Entre as duas posições extremadas, de recusa sem apelo e de credulidade total, estende-se uma área de reações variáveis, contraditórias: acredita-se sem acreditar, não se quer acreditar, mas mesmo assim acredita-se. "A vidência? A astrologia? As linhas da mão? Superstição! Charlatanismo! E acrescenta-se: "Mas há algumas coisas..."Ou o inverso: "Estive com um mago formidável!" E conclui-se: "Bom! Tudo isso são histórias..."
O texto acima mostra exatamente a posição da maioria das pessoas ante o desconhecido. Acreditam desacreditando, ou desacreditam acreditando, mas ficam em cima do muro. Às vezes arriscam uma espiadela rápida, numa consulta a um vidente ou num jogo de búzios, nas horas em que a vida está judiando e não conseguem outra forma de compreender o que lhes está acontecendo. De repente, por algum motivo, entram num estado alterado de consciência, e têm um vislumbre do que existe no lado oculto de sua própria mente. E se assustam, ou se maravilham, ou simplesmente procuram ignorar, com medo de bater de frente com uma nova realidade. Aí vem o medo do novo, o medo das mudanças internas que fatalmente irão se refletir na vida exterior, e preferem ignorar o insight e continuar como antes, procurando os oráculos nos momentos de grande aflição, em vez de procurarem as respostas dentro deles mesmos.
Quem nunca teve uma forte intuição? E quem, não seguindo seu palpite interno, se arrependeu depois? E, invariavelmente, vem o lamento: "... Ah, por que eu não segui minha intuição? Porque não acreditei no meu sonho?... "
Mas por que não segue a intuição, por que não acredita no sonho e prefere acreditar na palavra do vidente? Porque, como sempre, as pessoas teimam em só aceitar, em só acreditar naquilo que vem de fora, que vem pela boca dos outros, que vem pela televisão, pelo rádio e não reconhecem que dentro deles mesmo está uma verdade muito maior, que se acessada, poderá lhe dar todas as respostas..
Por que ele mesmo não olha para uma bola de cristal ou para a superfície lisa da água , faz suas perguntas, relaxa e espera as respostas? Porque, quando as respostas vierem, ele terá dúvidas... Será mesmo? Será imaginação? Mas, se for um vidente que lhe der as mesmas respostas...Ah! Aí é diferente! Aí fica mais fácil de acreditar!....
E assim caminha por cima do seu muro, equilibrando-se entre o acreditar e o desacreditar, quando seria muito menos angustiante aceitar de uma vez que seu interior é rico, que aguarda apenas a visita de sua própria lucidez para lhe abrir, pouco a pouco, a porta que o levará ao encontro de realidades muito mais abrangentes do que aquelas que seu raciocínio pode alcançar. Para isto, basta que tenha a coragem de dar o primeiro passo, de colocar uma bola de cristal sobre um veludo negro e fixar nela sua atenção, de jogar seus próprios búzios ou de simplesmente fechar os olhos e aguardar as imagens brotarem no fundo negro da tela de sua mente, sem se preocupar em saber se a resposta será realidade ou fantasia, pois com certeza verá a rica linguagem que vem do seu interior, ou através dele, para lhe contar, mesmo que de forma simbólica, a melhor maneira de conduzir seu caminho para alcançar uma integração com o Todo.
Existem, realmente, os que têm dificuldade em dar este primeiro passo. Mas chega aquele momento, o mais doloroso momento da vida, em que olham em volta e não encontram mais nada. E agora? Olhar para onde? Apoiar em que? Nunca, até então, haviam lhes ensinado a olhar para dentro. E como é difícil, nas primeiras vezes, a contemplação do próprio interior! E então eles batem à porta de alguém que lhes possa apontar um caminho, o caminho que leva ao interior deles mesmos, mas um caminho que depois terão que trilhar sozinhos.
Quem nunca precisou que alguém, algum dia, lhe falasse sobre a situação complicada em que vivia e lhe apontasse um caminho para a luz? Quem nunca se sentiu perdido num túnel escuro e sombrio e renasceu ao segurar a mão que o guiou à claridade?
Não acredito que exista alguém que não precise de uma palavra, de um esclarecimento sobre si próprio, de uma ajuda para se conhecer melhor e para entender aquilo que o aflige, antes de iniciar, realmente, a trilhar a estrada que o vai conduzindo, cada vez mais, para dentro de si mesmo.
A função de um verdadeiro Oráculo não é, como muitos pensam, servir de diretriz em todos os atos da vida de uma pessoa, mas sim apontar-lhe o meio de acalmar sua alma para poder seguir em paz, no caminho que o levará a seu interior à comunhão com todo o Universo.
Texto de Márcia Villas-Bôas
QUANDO O DISCÍPULO ESTÁ PRONTO...
Uns dizem que quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece. Outros, ao contrário, explicam que, quando o discípulo está pronto, o Mestre desaparece.
Se aparece, ou se desaparece, são etapas de uma mesma jornada, a tal jornada que alguns chamam de caminho da iluminação.
Mas o que seria este caminho? Na certa não é uma estrada que se precise realmente trilhar. Ninguém necessita se mudar para o Tibet, ou fazer o caminho de Santiago, para conquistar a iluminação. O caminho é para dentro, em mergulhos gradativos até que a pessoa se torne um ser total, plenamente consciente.
O ser humano, principalmente o ocidental, sempre se preocupou em procurar suas respostas fora de si mesmo, e o caminho entre o consciente e o inconsciente sofreu uma ruptura, que pode ser restaurada na medida em que a pessoa se acostuma a se voltar para dentro e a trabalhar seu psiquismo.
Poderíamos dividir esta caminhada em 3 etapas preliminares:
1) O futuro discípulo não está pronto e nem está procurando um mestre.
É aquela fase em que a pessoa está totalmente fixada no mundo exterior, e seu encontro com o inconsciente só acontece através dos sonhos ou em raros momentos de relaxamento mental. Alguns ficam nesta fase a vida toda....
2) Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece.
De repente, no meio da loucura que é a vida voltada somente para o exterior, acontece alguma coisa que atrai o foco da consciência um pouco mais para o interior. Há um toque em nível consciente na estrutura interna, até então desconhecida, e um conseqüente estremecimento de todo o ser. Ele fica inquieto, começa uma procura, sem saber bem o que está buscando, até que encontra um mestre ... Uns se contentam com um só mestre, outros com vários. Alguns preferem seitas, religiões, livros, enfim... São também muitos os que ficam nesta etapa durante toda a vida.
3) Quando o discípulo está pronto, o mestre desaparece.
Aí chega aquela etapa em que o contato com o interior se faz com mais facilidade, e a pessoa já caminha a passos largos para romper o bloqueio entre sua consciência mortal e o seu Eu imortal e eterno, ou inconsciente, ou Eu Interior, ou que tantos outros nomes possa ter, mas que interage com todas as dimensões. O mestre desaparece, porque nenhum mestre, nenhuma religião, nenhuma seita pode lhe revelar coisas mais profundas e intensas do que aquelas que seu Eu interno tem a lhe mostrar.
Falei em 3 etapas preliminares de uma jornada, porque acredito que somente a partir desta terceira etapa é que começa, realmente, a Grande Caminhada, aquela em que a pessoa parte para a busca de seu verdadeiro lugar dentro do Universo visível e invisível que a rodeia.
Texto de Márcia Villas-Bôas
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“A Magia é o estudo sério das leis que regem as forças que nos rodeiam e que são postas em ação pelo poder da Vontade; a Magia é a ciência que ativa a potência do verbo e, sobretudo, dirige e concentra o poder do Amor, porque a magia não é branca e nem negra. A cor da Magia está no coração de quem a pratica.”
(Márcia Villas-Bôas)